BRASILEIROS FUGIRAM DE UMA CRISE HÁ DUAS DÉCADAS E AGORA VIVEM OUTRA
Após o "sonho americano" nos anos 80, fugindo à crise na América Latina, a comunidade brasileira nos EUA vive uma tempestade financeira de novo e o dilema de permanecer ou retornar.
Para Wilson Fusco, demógrafo e investigador da Fundação Joaquim Nabuco (Recife/Pernambuco), "com a crise que ocorreu no sistema hipotecário dos Estados Unidos, vários brasileiros começaram a escolher outros destinos ou a voltar para o Brasil". Mas para a professora Teresa Sales, professora reformada da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e membro do Núcleo de Estudos de População (Nepo) da mesma universidade paulista, a crise financeira não trará os brasileiros de volta porque uma grande parte já está estabelecida há muitos anos, inúmeros têm casa comprada, com filhos já nascidos nos Estados Unidos ou que frequentam os colégios norte-americanos.
"A segunda geração é um forte factor de solidificação e fixação da comunidade brasileira nos Estados Unidos", referiu a socióloga, acrescentando que mesmo os ilegais, que possuem emprego e família, devem permanecer.
Na ausência de indicadores fiáveis, as associações da comunidade brasileira nos EUA indicam que as dificuldades levantadas pela crise estão a levar muitos brasileiros a regressar e a desistir de uma aventura migratória que conheceu o seu auge nos anos 1980.
Os dois investigadores concordam aliás que o fluxo emigratório do Brasil para os EUA cresceu consideravelmente a partir dessa década, no início do chamado "sonho americano", devido à crise económica que atingiu toda a América Latina.
Teresa Sales e Wilson Fusco explicam que os primeiros brasileiros a emigrar para os Estados Unidos eram da classe média baixa, com algum recurso financeiro, que foram trabalhar no sector terciário e da construção civil.
No entanto, "após os atentados terroristas de 11 de Setembro, os EUA intensificaram sua política de restrição à imigração, dificultando cada vez mais a concessão de vistos de entrada para brasileiros", garantiu o demógrafo.
Segundo o especialista, a partir dessa data, "o fluxo para os EUA estabilizou-se e novas correntes começaram a formar-se, dessa vez em direção a países da Europa".
Os dois pesquisadores consideram que uma parcela de brasileiros tiveram uma ascensão sócio-económica nos EUA, mas a maioria deles continua a trabalhar nos sectores da restauração, limpezas, construção civil, hotelaria e outros.
Agora, a crise financeira internacional, iniciada precisamente nos EUA, trouxe novos problemas e a vida do emigrante brasileiro piorou muito naquele país, segundo Fusco.
"Tornou-se difícil encontrar emprego e mais brasileiros compraram sua passagem de volta. Como a economia no Brasil parece ter tido um impacto um pouco menor do que nos outros países, tenho a impressão que ainda mais brasileiros vão voltar para casa", indicou o demógrafo.
No entanto, Teresa Sales pensa que "somente alguns brasileiros vão voltar, principalmente os da emigração mais recente". "Há um exagero em dizer que os brasileiros estão a voltar dos Estados Unidos", disse à Agência Lusa a socióloga, actual presidente do centro de pesquisa Josué de Castro, no Recife.
O Governo brasileiro avalia que existem aproximadamente 1,2 milhão de brasileiros (legais e ilegais) residindo nos Estados Unidos. No entanto, os dados de 2007 do U.S. Census Bureau, órgão oficial que realiza os censos nos Estados Unidos, indicam que há cerca de 340 mil brasileiros (legais e ilegais) morando no país.
17/03/2009, Jornal 24 horas
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário